terça-feira, 10 de março de 2009

Sobre o desejo lacinante da dor

Suportam o peso atroz e bruto,
Os punhos a lacerar-se e a pele
A corroer-se. A garganta expele
Seca. O grito de dor do escorbuto.

Vergam-se. Na rigidez de um minuto
A falarem: teus dedos agora flagele!
Num instante ordeiramente repele
A distrofia que leva ao meu luto.

E se não basta tanto enfermo, enfim,
O corpo mostra sua infante fraqueza
E não carece mais de começo e fim.

Da dor imensa que o corpo sente
Também me some toda a defesa
Ao ver a carcaça triste e ausente.

Renato De Boer

3 comentários:

Giu Missel disse...

Espetáculo!

Lacinante.

Alexandre Spinelli Ferreira disse...

Muito bom este soneto... parabéns!

Malu disse...

Rico e farto. Bom demais p/ ser consumido em leitura compulsiva.